Não vá às compras hoje! É dia dos incautos.

 

Hoje, dia dos incautos, os supermercados aproveitam aquelas nozes que não foram vendidas há um ano ou dois, ainda dentro das cascas, supostamente não ficam ruins, e as empurram junto com tâmaras e figos secos turcos e cerejas em conservas, aquelas bolinhas de chuchu nas embalagens com calda para você prepar a ceia de natal como se você fosse do Hemisfério Norte, com aquelas aves variadas, uma de cada grande fabricante de proteína animal, cada uma com um nome, modificadas geneticamente para aparecerem nas propagandas das mídias, principalmente da televisão, veículo mais acessível a pobres, e são esses os que mais consomem sem poder, pernil e, pasmem!, bacalhau, tudo comida de países frios de tanta caloria e gordura. Na França, por exemplo, tem também aves, mas poucas variedades, e juntam carnes de veado, de javali entre outras iguarias para a fartura natalina acessível à maioria. Quem pode mais, paga pelas aves. Aqui, parece obrigatório. E hoje, antevéspera do Natal, a pré-lista de quem sabe que uns três ou quatro parentes vão vir e que precisam mostrar fartura, fartura é a palavra chave, e já vão hoje e compram, se já não tiverem no freezer aquele pernilzão do ano passado, basta encher de sal e temperos  que disfarça o gosto de antigo do bicho. Assim mesmo, tem que comprar mais coisa. Para o churrasco, principalmente para começar os trabalhos, linguiça barata - e ruim - e asinha de frango, que o supermercado bota preço nas alturas porque conhece quem vai lá hoje. Umas quatro cidras para estourar à meia-noite, já com todo mundo de fogo, ninguém sabe nem mais quem é quem, onde está nem quem está abraçando, e é esse o real motivo mesmo, porque como dizem, nem se gosta de ninguém na festa da firma, a confra, nem quem se ajunta nas confraternizações, se vêm, nem se gosta das pessoas a cuja casa se vai, então o álcool serve de lenitivo, senão não desce. Então, não vá hoje às compras. Rico nem vai, você vai encontrar essas mesmas pessoas no mesmo lugar aonde você for, afinal de contas são do mesmo bairro, do mesmo nível sócio-econômico, quando não do mesmo emprego. O supermercado sabe disso e aumenta tudo! Pinho Sol a quinze Reais e o alternativo Uau a uns seis ou sete, desencalha tudo e aumenta a rentabilidade no balanço. (Vai dizer que você não conhece o que desinfeta, desengordura e perfuma dessa marca aí? Custa de três a três e cinquenta). Amanhã, vão os de última hora, quem resolver estourar o cartão - que se dane! - compra mesmo! Carne, nem que seja paleta, cerveja, um monte! Aí, no fim do dia, já com a rapa batendo no portão, supermercados fechando, lembra que esqueceu do carvão, aí toca alguém ir ao posto de gasolina pagar o dobro no saco sujo, mas sem ele não tem  churas... Na véspera é assim, paga os óio da cara para não fazer feio. Nesse tipo aqui, as mulheres, coitadas, ficam pra lá, preparando farofa e maionese enquanto a rapaziada fica na música e no truco: machismo? O que é isso? Sempre foi assim desde a época da escravidão, dos meus trisavós. E meus filhos presentes repetirão isso e minhas filhas presentes aprenderão que serão elas que ficarão à mercê dos machos, fazer o quê? É assim que é, e como diria aquele personagem do Auto da Compadecida, "Não sei, só sei que é assim". Feliz Natal, boas festas. 

(Eu penso isso, pense você aquilo)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Indultar presos condenados? Sei não... Por quê?

Todo dia é dia, toda hora é hora

O Corinthians... Ou melhor, a Fiel é favorita, mas tem o efeito Neymar