Onde dói, filho? "Dos pés à cabeça". Eu te entendo...
Ontem, no torneio de tênis de Miami, Wta 1000, a tenista Vitoria Azarenka sentiu dores na clavícula, que de tão fortes, a impediam ficar em pé equilibrada, ficou recostada num tapume até que chegasse socorro. E a dor era de chorar, teve que ser amparada e medicada para conseguir, pelo menos, ser retirada do estádio. Isso numa moça de trinta e poucos anos, acostumada com jogos intensos por horas seguidas, quase 300 dias no ano. Costumamos, hoje em dia, atribuir peso maior à dor emocional do que aquela que nos acomete o corpo, e há umas que analgesia constante é a única forma de ter algum controle, alguma qualidade de vida razoável, e para quem sofre de dores desse tipo, a menos que se resigne a viver com ela, o inferno parece mais aprazível de se viver, e se isso conforta, 30% das pessoas no mundo sofrem de dor crônica. No Brasil, 36,9%, segundo dados do Ministério da Saúde, e desses, uma boa parte faz uso de opioides para alívio e ter alguma melhoria na sua dor incomodante, inclusive correndo risco de vício e dependência dessa substância. Em geral, acometem mais pobres e as mulheres. Doenças crônicas articulares, câncer, diabetes, fibromialgia, hérnia de disco, rompimento ligamentar, síndromes como zika e chikungunya, distúrbios cerebrais, estresse, problemas na medula espinhal e nervos estão entre as principais, e se acometem mais pessoas acima dos cinquenta anos, os mais pobres e as mulheres, enxergam-se nesses grupos os mais vulneráveis e menos afeitos aos cuidados preventivos ou corretivos não medicamentosos, o que é uma pena. Ir direto para as drogas - os analgésicos são drogas! - não é a saída mais adequada, mas parece ser a única para quem não dispõe 1 segundo de bem-estar nos 86.400 segundos que tem nas 24 horas do dia, um horror! E segundo pesquisas, muitas dessas pessoas que sofrem admitem que morrer não é nem tão ruim assim, considerando que é fatal que venha a acontecer mais dia menos dia, e que não sendo traumática, livraria do inferno diário. Ainda que vá para o inferno apenas por esse tipo de pensamento, vai pra lá uma única vez, e o purgatória acaba por condenar a existência ao próprio inferno, sem chance de paraíso, se é que você me entende. Segundo dados do IBGE, em 2023 a população de idosos deixou de ser a menor fatia entre brasileiros e em 2046 essa gente ultrapassará a quantidade de jovens para, e em 2070, alcançares cifras de mais do dobro do que são hoje esses suscetíveis a dores crônicas. Já se sabe que prevenir custa menos para planos de saúde e para o Estado do que manter alguém com dor crônica em internação hospitalar, e não é por outro motivo que existem essas academias de rua, ainda que precárias, mas estão por aí em tudo que é lugar nesse Brasilzão, e não é por outro motivo que os planos de saúde mantêm grupos de saúde preventiva, principalmente voltada para a saúde cardíaca. E agora articular para a rapaziada acima dos 50 anos, o principal alvo dessa prevenção. Para entender esses dois mundos, só estando num deles, ou do que faz o que tem que fazer para manter o balanço financeiro no azul ou no lado dos que se matam todo dia para não sentir dor o dia inteiro.
(Eu penso isso, pense você o que quiser)
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